quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Até onde as composições tem contexto teológico?


        É praticamente impossível pensar na igreja cumprindo seus propósitos, alcançando e edificando pessoas, sejam elas jovens, anciãs, adolescentes ou crianças sem pensar na música. Seja em qualquer ministério, convencional ou mais arrojado, lá está ela: a histórica e inseparável amiga dos ministros e pastores.
A pós-modernidade tem exigido muito de todos nós. Para alcançarmos uma geração globalizada, veloz e que não é apegada a altos padrões de moralidade, necessitamos de ações ministeriais cada vez mais criativas, contemporâneas e voltadas para resultados. Por isso são necessários obreiros altamente treinados, talentosos e especializados em áreas nas quais nunca operamos. Também da utilização de quase tudo o que se refere a gêneros musicais, deixando de lado o preconceito, a ignorância e as preferências pessoais, que são os três maiores inimigos de tudo o que Deus pode fazer através da música.
É comum associar-se um estilo musical ou uma linha de composição a algo menos ou mais “sacro”. Apelidamos alguns estilos de “espiritual” ou de “adoração”. Pessoalmente já ouvi um líder recomendar a um cantor que abandona-se seu repertório e estilo, passando a cantar aquilo que é sucesso em quase todas as igrejas. Ou seja, todos devem cair numa grande vala artística comum e ninguém precisa perder tempo com “invenções”.
Nosso Brasil querido conta com uma diversidade de influencias culturais espantosa, sendo o país que contém o maior numero de ritmos no mundo, e uma variação cultural de causar inveja às nações. Muitos veem buscar inspiração e conhecimento aqui. Isso deveria se refletir nas linhas poéticas das composições cristãs, afinal somos brasileiros, pregamos para brasileiros e certamente não seremos forçados a cantar baladas em inglês, óperas em latim ou músicas festivas em hebraico no céu. Um único gênero musical, que contemple apenas um público, seria um tremendo retrocesso. Pra não dizer, falta de discernimento espiritual.
O grande problema da música que estamos ou podemos executar, tanto na igreja como fora dela é o mesmo há séculos: o sua fundamentação bíblica. Não raramente nos deparamos com letras de hinos antigos capazes de nos levarem às lágrimas que, tendo que passar pelo crivo das doutrinas cristãs, acabam ficando apenas como relíquias de valor histórico e vivencial.

Hoje, não tem sido diferente a não ser pelo fato de que como as composições são em muito maior número, os erros o são na mesma proporção.  Mais do que nunca se tem ouvido canções tendenciosas, recheadas de valores individualistas e egoístas, e algumas até mesmo promovendo revanchismo. Temos cantado muito para o ego humano e preparando o povo para qualquer coisa, menos para a verdadeira devoção e discipulado. Os cânticos tem se transformado em réplicas daquilo que faz sucesso no Brasil ou fora dele sem nenhuma preocupação com o teor das letras. As copias contemplam todos os gêneros, repetindo às vezes enfadonhamente o grande tema da hora.
Para exemplificar o que estou dizendo faço referencia a uma musica em especial de uma jovem cantora que estourou no Brasil e foi o carro chefe de seu álbum. A canção desenvolveu um tema bastante bem emotivo de alguém que passou por uma grande luta e não obteve ajuda das pessoas. Ela então declara que aqueles que não acreditavam nela agora vão ficar assistindo de um nível bem inferior o seu sucesso e glória.
Eu já vi compositores sendo questionados por erros de conjugação verbal, ou talvez por causa da rima; por utilização de textos fora de contexto e versos desconexos. Mas esse tipo de erro, onde se abandona totalmente a mensagem evangélica e se apela unicamente para as emoções e para a sede de promoção pessoal, é o fim! Em outra situação o adorador faz questão de lembrar ao Senhor que jurou em seu favor, e que nem mesmo os seus pecados podem mudar o que prometido por Deus. Agora vejam só, que calamidade!
Já faz algum tempo que composições com temas poéticos de prostração ou quebrantamento; de reconciliação ou de exaltação deixaram de ser cantadas em nossas igrejas, substituídas por uma onda de músicas sobre posse de promessas a qualquer preço, ou por temas que tem exigido da parte do Senhor prosperidade incondicional, independente da relevância da nossa vida espiritual.
A igreja sempre foi e ainda é a grande paixão de Cristo. Uma relação altamente sacrifical e servil. Precisamos experimentar esse tipo de atitude em nosso relacionamento com Ele. É coerente que o amemos sem esperar nada em troca, se é verdade que cremos no presente da vida eterna.
Chegou a hora de envolvermos mais da nossa vida e talento expressando aquilo que Cristo tem feito em nós, com uma abordagem altamente poética. Alguns compositores defendem a tese que composição é mais transpiração do que inspiração e isso só pode ser concretizado com papel, borracha e lápis.
Que Deus continue abençoando a cada ministério de louvor das nossas igrejas e que o crescimento de cada um seja descrito por uma relação de temor ao Senhor, de onde flui toda a sabedoria.